quarta-feira, 31 de julho de 2013

O merecido prêmio


por Eder Ferreira e Maneco Terra

Os trovões explodiam lá fora. Sob os anúncios inevitáveis de chuva, Eder e Maneco, dois amigos metidos a escritores, refletiam perante a tela do computador, com o programa Word aberto, sem que nenhuma linha tivesse sido escrita. Na verdade, mais do que reflexão, os dois forçavam suas mentes atrás de algo realmente inovador. Escrever um livro? Sim, todos sabemos que não é tarefa fácil. Porém, com os avanços educacionais e culturais, somados aos recentes saltos tecnológicos que a internet nos propicia a cada dia, escrever e publicar um livro não é mais uma missão hercúlea. Hoje, muitos podem ver suas idéias em livros, ou publicadas diretamente na rede, onde qualquer pessoa pode ler.
Mas, não era isso esses dois queriam. Em suas mentes, palavras e pensamentos dividiam espaço com brancos intermináveis. Como se seus cérebros quisesse funcionar em pleno vapor, mas, algo impedisse. As idéias até que fluíam, mas não se organizavam, afim de se ter um lampejo criativo digno de entrar para a história. Todavia, sabiam os dois gladiadores literários que hora outra algo teria que surgir, e que o silencio pensativo à frente do computador sem uso já era digno de nota.
Quando parecia que nada realmente surgiria, eis que Eder, em sua forma nada simplória de se expressar, diz, em calara euforia:
- Perai, já sei!
Maneco, com aquele olhar de fraco-atirador, que sempre está com um comentário crítico pronto a atacar quem ousar dizer qualquer asneira, limita-se a apenas balbuciar um “o que?”. Rapidamente, Eder se posiciona para o teclado, e começa a digitar algumas linhas, em grande velocidade. Maneco fica estático, apenas olhando para a tela, vendo nascer em letras maiúsculas uma curta frase de duas palavras apenas: “PRÊMIO NOBEL”.
- Mas, porque Prêmio Nobel? O que isso significa? – pergunta Maneco, com aquela cara de curiosidade nada típica.
- Simples – diz Eder – vamos nos inscrever no Prêmio Nobel!
Maneco, sarcástico como sempre, dá um sorriso de canto de boca, e diz:
- Mas... é a Fundação Nobel quem escolhe os indicados.
- Eu sei – diz Eder – mas, vamos arriscar. Vamos enviar nosso livro pelo correio. Fazemos uma tradução para o sueco, junto com uma carta de apresentação e nossas biografias...
E Eder continua com suas explicações estapafúrdias, sabendo que Maneco não concordará com tais idéias. Porém, para seu espanto, o eterno critico, dessa vez concorda.
- Boa idéia! – diz Maneco, arregalando os olhos.
- Você gostou da idéia? – pergunta Eder, com um olhar de espanto.
 Maneco, com sua incauta presença, apenas diz “sim”.
Assim, nos dias que se seguiram, os dois se puseram a traduzir seus textos para o sueco, bem como uma carta, onde apresentavam seus trabalhos como escritores, além, é claro, de suas nada breves biografias. Uma vez feitos tais tramites, embalaram tudo em um grande envelope. Eder pesquisou na internet o endereço da sede da Fundação Nobel, em Estocolmo, na Suécia, bem como os procedimentos para enviarem o envelope via aérea.
Enfim, mandaram o trabalho pelo correio, sem nenhuma esperança de que houvesse qualquer retorno. Mas um dia, enquanto trabalha fielmente em sua saparia, Maneco levou um enorme susto quando viu Eder adentrar-se com euforia.
- Maneco! Ganhamos! Ganhamos o Nobel de Literatura...
Ao ouvir isso, Maneco levantou-se de sua cadeira, e disse:
- Mas, como? Isso é brincadeira, não é?!
Foi quando Eder retirou de dentro de um grande envelope, duas medalhas e dois diplomas, nitidamente cunhados pela Fundação Nobel. As medalhas continham o rosto em perfil de Alfred Nobel, enquanto que nos certificados constavam algumas coisas escritas em outro idioma, provavelmente o sueco. Maneco pegou uma das medalhas, verificou-a com cuidado e disse:
- É, parece real. Mas, e o prêmio em dinheiro?
- Pois é – explicou Eder – também veio essa carta, em português. Aqui tá escrito que, como nos escrevemos via correio, não dava pra mandar o cheque do prêmio, então, ele será doado para alguma instituição de caridade.
Maneco faz uma cara de descontente. Queria o prêmio, era óbvio. Porém, apesar de não ganhar o dinheiro, reconfortou-se ao ver que, ao menos uma vez, seus textos haviam sido reconhecidos, e logo pelo Prêmio Nobel. Ainda com a medalha na mão, ele olha para seu amigo e companheiro de batalha no mundo das letras, e solta uma de suas perolas inevitáveis.
- Valeu companheiro... ano que vem, rumo ao bi!

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Invencionice


por Eder Ferreira

Estou sonetificante por escrever
Tantos versos e tantas poetilezas
Quiçá as riméticas não sejam coezas
Libertináveis, sim, é certo de saber

Invento palavriações inexoráveis
Vocábulos eternófilos, demasiados
E, nesses vérsicos tão desolados
Redesposeciono as frases amáveis

Ao reinventar todas essas coisélas
Talvez sobre uma inspiracinalização
Que eu consiga furtificar delas

Transpalavriando, na volta ou na ida
No caminho da febril inventalização
Quem sabe eu reinvente minha vida

Poema originalmente publicado no livro "O Exterminador de Sonetos" (1ª e 2ª edição)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Prazo de validade


por Eder Ferreira

O iogurte venceu
Ou perdeu... a validez
Como o Orkut
Que faleceu
Com um “livro na cara”
É a sina, é a tara
Desses tempos tão...
...velozes...
As manifestações...
Acabaram? Não...
Só se cumpriu a profecia
Da estrela vermelha
Que brilhou no céu
Estrelado momento
Na bandeira, ao relento
A face, o tapa...
A mão e a luva
Que servem... servas
Como a cúria brazuca
Que leva na nuca
Sob esse quente “sor”
Four ever (more)

terça-feira, 16 de julho de 2013

Sobre o fim da literatura e o descaso dos "grandes escritores"


por Eder Ferreira

      As pessoas odeiam ler, isso é uma realidade. É claro que essa afirmação não pode ser lida de maneira generalizada, pois existem muitos leitores ávidos por ai. Mas, mesmo essa frase, tão tendenciosa e exagerada, esconde uma verdade cruel e inevitável: vivemos em um mundo onde cada vez menos as pessoas se interessam por literatura. E, mesmo que a generalização não seja a melhor forma de criticar o martírio por que passam os escritores independentes brasileiros, talvez esteja na hora de encararmos essa questão com certo radicalismo. É certo que toda forma de radicalizar o problema, seja ele qual for, não é correta. Mas, se deixarmos as coisas como estão, em breve viveremos em uma sociedade que tratará os livros como peças de museus e os leitores como lendas urbanas. Os escritores consagrados, autores de best-sellers e demais literatos que se deliciam com o bolo inteiro, sem deixar sequer uma migalha para os escritores independentes, não se importam com tal previsão apocalíptica, pois acreditam que seus textos e livros estarão sempre bem guardados nas gavetas sem trancas da história. Porém, vale a pena lembrar-lhes que o cadeado da ignorância já teve muitos nomes, como inquisição, ditadura, censura, entre outros mais, e que, mesmo em um mundo como o nosso, onde o conhecimento navega livre pela rede mundial de computadores, sempre é possível que alguém crie um novo nome para a estupidez humana. Um nome, inclusive, que nem os afamados escritores, considerados deuses literários, vão conseguir decifrar a tempo. 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sem mais despedidas



por Eder Ferreira

Já se foram dias, meses, anos 
e ainda temos que dizer adeus 
a cada nova despedida 

Lá se foram os sonhos 
para onde o coração não vai 
na distância física da alma 

Se foram todas as palavras 
deveras ditas e escritas 
para manter o fogo aceso 

Sumiram todos os sorrisos 
todos os abraços nunca dados 
e todos os beijos ao sabor do vento 

Desapareceram as lembranças 
que embalavam a memória 
perdida em tantos momentos 

Já se foram horas, minutos e segundos
e mais uma vez tenho que te dizer 
“Adeus, se cuida e até breve” 

Poema originalmente publicado no livro "Um lugar para dizer adeus". Para saber mais sobre o livro e adquirir seu exemplar clique aqui

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Concurso "Poesia todo dia"


     Acabei de receber a notícia via e-mail de que sou um dos ganhadores do Concurso "Poesia todo dia", e de que em breve será publicado um livro com os poetas finalistas. Fiquei muito feliz, claro, pois nem me lembrava que havia me inscrito nesse concurso. Para conferir a lista de ganhadores, clique aqui.

Eder Ferreira

terça-feira, 9 de julho de 2013

O opulento


por Eder Ferreira

Jair acaba de sair da lotérica, com o resultado do último sorteio, dado pela atendente. Com ele em mãos, confere seus bilhetes, para ver se algum deles está premiado.
– 32, 47, 06... 06? Eu ganhei, ganhei...
Entra de volta na lotérica, para saber se realmente havia ganhado. Logo sai pulando de alegria. Há anos ele jogava, mas nunca a sorte lhe sorria. Toda semana fazia uma “fezinha”. Chegou a gastar verdadeiras fortunas em jogos de apostas. Mas, agora, ele estava rico. Pouco mais de um milhão. Não precisaria mais trabalhar, nem se preocupar com contas. Sua vida, tão sofrida, agora mudaria. De um simples carpinteiro, passaria para um empresário. É, por que não. Nunca mais precisaria se preocupar com contas, cheques ou empréstimos. É só chegar em casa, dar a notícia para sua esposa, e pensar o que fazer com o dinheiro. “Imagina só quando eu falar pra ela. Do jeito que é, vai cair dura”, pensa ele. Vai andando pela rua, todo feliz, pensando no dinheiro que ganhara, quando encontra o Doutor Evandro, médico que a mais de dez anos atende sua família. Doutor Evandro tem a fama de irônico, e de falar difícil, usando constantemente palavras desconhecidas e exóticas. Sempre com seu terno escuro, faça calor ou frio, o velho médico nunca foi um antro de simpatia. Com um ar de seriedade o médico fala:
– Como vai Jair. E a pressão, voltou a subir? E porque esse sorriso tão largo?
– O senhor não vai acreditar. Acabo de saber que ganhei mais de um milhão na loteria – diz Jair ao médico.
– Parabéns, por ser o mais novo opulento da cidade. Mas, me desculpe, preciso ir.
– Até mais, Doutor.
Doutor Evandro vai embora, e Jair prossegue andando. Mas logo começa a pensar sobre o que o velho médico havia lhe dito. “Opulento? Mas o que seria isso? Ai meu Deus, ele é médico, e não estava com uma cara muito boa. E aquele parabéns. Isso só pode ser uma doença. Ele não ia brincar com uma coisa dessas. E justo agora que fiquei rico. Vou agora mesmo ao consultório dele, para saber mais sobre essa doença. Não, não vou. Se ele me disse assim, no meio da rua, e com aquela cara de poucos amigos, é por que sabe da gravidade da doença, e com certeza vai dizer que já está avançada. Não vou aguentar uma noticia dessa, não agora. Vou até o Doutor Marcelo. Ele é bom médico, o consultório fica aqui perto e, com certeza, não vai me desanimar.”
E lá vai Jair, até o consultório do Doutor Marcelo. Ao entrar no consultório vai direto até a atendente.
– Olá moça. Quero marcar uma consulta com o Doutor Marcelo.
– O senhor vai ter que aguardar um pouco. Ele está no meio de uma consulta. O senhor pode se sentar e aguardar alguns minutos – disse ela, muito atenciosamente.
Jair se senta para esperar. O tempo vai passando. Aqueles minutos parecem que nunca vão terminar, até que finalmente ele é chamado para a sala do médico. Ao entrar na sala do médico, Jair começa a tremer e a suar.
– Em que posso lhe ser útil – diz o médico.
– Doutor. Quero fazer uns exames.
– Tudo bem, mas por que, esta se sentindo mal? – Pergunta-lhe o médico.
– Não... não. É só rotina.
Entraram, então, em uma outra sala, e o médico começou o exame.– Diga A.
– AAAAAAHHH!
– O.K.. Você tem sentido alguma dor no peito, cansaço, ou outro mal estar? – indaga o médico.
– Não – responde Jair
– Vou medir sua pressão – Diz o médico, colocando o aparelho de medição no braço esquerdo de Jair. Depois de alguns instantes – Bem, sua pressão está um pouco elevada. Você é hipertenso?
– Sim, Doutor, de vez em quando preciso tomar remédio para pressão – diz o angustiado Jair.
– Vamos ver como está seu coração – diz o médico, com o estetoscópio em mãos – seus batimentos cardíacos estão um pouco elevados, mas creio que seja por seu nervosismo – e continuou – me diz uma coisa, Jair, seus pais tem ou tiveram algum tipo de doença crônica?
– O que seria isso Doutor – diz Jair, ainda mais nervoso.
– Doença crônica seria uma doença incurável, que só pode ser controlada, como alergia, por exemplo – explica Doutor Marcelo.
– Que eu saiba não – responde Jair.
E assim o exame seguiu. Ao término, os dois voltam para a outra sala, e o médico lhe diz:
– Bem, Jair, você não tem nada.
– Como assim, Doutor, não tenho nada? – Indaga Jair.
– Não, seus exames não constataram nada, a não ser a pressão alta, que você mesmo mencionou. É claro que alguns exames clínicos devem ser feitos.
– Tenho certeza que esses tais exames clínicos vão dizer alguma coisa – diz Jair, com um ar de desolação.
O médico, já sem saber o que dizer a Jair dá um longo suspiro, na tentativa de entender o que aquele homem tem para estar tão afobado, em busca de uma doença que, aparentemente, não existe. Sem ter muita idéia do que estaria acontecendo, Doutor Marcelo resolve indagar Jair do porque de tanta cisma.
– Mas por que esse pessimismo todo, o que aconteceu para você ficar assim?
– Agora a pouco, quando saia da lotérica, encontrei a Doutor Evandro. Ele me disse que estou opulento. Fale a verdade, Doutor Marcelo, isso é grave?
– Você disse lotérica? Então foi você quem ganhou o prêmio da loteria? – perguntou o médico.
– Fui eu sim.
– Meus parabéns! Mas, me diga uma coisa: Você sabe o que quer dizer opulento?
– Não é uma doença? – responde Jair.
– Mas é claro que não. Opulento é rico. Vem de opulência, que quer dizer riqueza.
– O senhor está me enrolando, não é. Deve ser mesmo alguma coisa grave. Não minta pra mim, eu sei que estou morrendo – disse o desesperado Jair.
– Vou lhe provar que estou falando a verdade.
Doutor Marcelo abre uma gaveta de sua mesa, pega um dicionário, e mostra a Jair o significado da palavra opulência.

Opulência: Grande riqueza; abundância; fausto; luxo; ver opulento.

– Está vendo como não estou lhe enganando? – diz-lhe o médico.
– Então eu estou bem? Que bom, agora vou poder gastar meu dinheiro sossegado. Dinheiro?! Por causa dessa desconfiança até havia me esquecido que estou rico, muito rico, riquíssim...
De repente, Jair põe a mão no peito, solta um gemido, e cai. Rapidamente, Doutor Marcelo chama sua ajudante e vai socorrê-lo. Depois de alguns instantes:
– E então Doutor? – pergunta a ajudante.
– Ele morreu!
– Mas, do que ele morreu Doutor – pergunta novamente a ajudante.
Doutor Marcelo olha para ela, e diz:
– De opulência!

Conto originalmente publicado no livro “Uma Verdadeira Prosa – Contos & Minicontos”, de 2010, pela Editora CBJE. Para saber mais e adquirir seu exemplar clique aqui

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Plebiscito poético


por Eder Ferreira

Vivo nesta terra
Que prega a liberdade
A igualdade velada
Escondida, reprimida
Vil, descarada, inerte
Que me vem à força
Na forma de lei
Pela aspereza da mão
Que me afaga
Que me liberta
Ditando regras
Esbanjando ação
Inerente poder
Que me dá o prazer
Roubando minha _______


Escolha uma das alternativas abaixo para completar o último verso do poema:

(  ) ambição
(  ) nação
(  ) paixão
(  ) reflexão

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Festa Junina Macabra


por Eder Ferreira

No meio do arraiá, quando todos festavam
Chegou sorrateiro, o futuro e vil assassino
Aquele que os festeiros ainda ignoravam
Mas que logo celebraria um terrível destino

Enquanto brincavam com a animada quadrilha
Ele espreitava, próximo à fogueira de São João
Todos bem vestidos, sozinhos ou em família
Comiam e bebiam, sempre na maior animação

Até que, súbito, como o estourar de pipocas
O caipira disfarçado então saiu de sua toca
Sacando sua arma, declarou guerra à vida

O sangue frio jorrou onde só havia alegria
Gritos de horror substituíram as cantorias
Estava feita a festa de um louco homicida