terça-feira, 26 de junho de 2012

Vida de escritor



por Eder Ferreira

Sempre que inicio um novo trabalho literário, seja um texto, ou mesmo um livro, um milhão de coisas passam pela minha mente (hipérbole descarada!). Penso se alguém irá gostar, ou ao menos ler, aquilo que escreverei. Analiso os pormenores desse oficio fatídico. Pergunto-me se não estaria prestes a perder uma parcela valiosa de meu tempo. Ou seja, não penso em nada que preste.
Depois, de tanto torrar neurônios à toa, começo então a escrever. As palavras vão surgindo. Se for um poema, tenho que digladiar com minha criatividade, para ver se arranco dela alguma metáfora ou algum lirismo ponderado. Se for um texto em prosa ficcional, tipo um conto, ou mesmo não ficcional (como esse que agora você lê), tento trabalhar as palavras de maneira a solidificar a aquosidade das ideias que teimam no caos de meu cérebro já cansado.
Vejam então, meu caro leitor, o quanto é difícil escrever. Se ainda não viu dificuldades, pense nos vestibulandos. Quantos se preparam por meses, ou até anos, para esbarrarem na famosa e temida redação. Montar um texto que agrade a banca examinadora não é tarefa fácil. Agora, imagine meu caso, onde tenho que agradar uma banca ilimitada, formada por pessoas que não tem a menor obrigação de ler quaisquer linhas que me atrevo a escrever. E, ao invés de notas, essa banca dá apenas pitacos. Ao invés de aprovação, a confiança necessária para vasculharem as prateleiras de uma livraria ou biblioteca atrás de um livro meu. E, ao invés de reprovação, a pior de todas as punições: o desdém.
Mas, a pior parte, vem assim que o texto, ou livro, fica pronto. O que fazer? Publicar o texto na internet? Sair atrás de patrocínio para o livro? Só resta caçar algum concurso literário que dê como prêmio a tão sonhada publicação, ou uma boa grana.
Escrever não é oficio para qualquer um. O peso é grande. A responsabilidade também. As únicas coisas pequenas são o dinheiro e o reconhecimento. Ah, e a vontade de desistir.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Pedaços do tempo



Por Eder Ferreira

Desfragmente o tempo. Depois o remonte, como um quebra-cabeça. Cada peça em seu lugar, cada pedaço colocado ao lado de seu par.
Como desfragmentar o tempo? Muito simples. É mais fácil do que parece. E há várias formas de se fazer isso. Existe a maneira clássica, os famigerados historiadores.    Antigo, medieval, moderno e contemporâneo. Mas, o que ainda virá, não faz parte do tempo?
Prefiro assim:
Tempos passados: incontáveis anos, décadas, séculos, milênios. Memórias perdidas na linha instável do que já se foi. Mesopotâmia, Roma, Grécia, Egito... Nações que surgiram e caíram. Apesar de me ater aos números e às letras, sempre me pego a espiar o buraco da fechadura do tempo que não volta mais. Até do Brasil que, dizem, não tem memória. Admiro a covardia dos generais e a coragem dos opositores. Tempos longínquos. Saudades imemoriáveis. Tempos nostálgicos, de quando ainda valia a pena viver...
Tempos presentes: inexistentes. Ou melhor: inexplicáveis. Talvez imperceptíveis seja a melhor definição. O presente, praticamente, não existe. Nem um milésimo de segundo separa o passado do futuro. É como a cabeça de um alfinete. Presente mesmo, só quando se faz aniversário. Se bem que nem isso, já que o presente temporal não é dos melhores.
Tempos futuros: se o que está acontecendo já é uma incógnita, o que dizer do que ainda não aconteceu? Meros devaneios. Há previsões para todos os gostos. Das mais otimistas, como prosperidade, paz mundial, o Brasil como potência econômica, e blábláblá, até as mais pessimistas, como guerra, peste, morte, fome, e mais algum cavaleiro apocalíptico que quiserem inventar. Ou seja, é melhor deixarmos o futuro para os verbos.
Assim se resume o tempo. Mas dá para fazer outras divisões: só passado e futuro, eras geológicas, em grupos de anos, etc.
Em tempo, desfragmente-o de qualquer maneira. Ou deixe-o assim mesmo, seguindo seu relativístico eixo. O tempo nos permite que brinquemos com seus minutos e segundos, que contemos seus dígitos de trás para frente, que percamos horas vendo a areia de uma  ampulheta  cair  lentamente,  que deixemos  de nos  preocupar com os atrasos, que acordemos cedo e enrolemos até a hora de sair para o trabalho, que fiquemos até altas horas da madrugada vendo TV sem nos preocuparmos com o dia seguinte, que escrevamos crônicas insanas sobre ele próprio, etc...
Enfim, isso é o tempo. Mas, atenção, uma hora ou outra o tempo acaba. Todavia seus fragmentos para sempre irão pairar sobre o eterno abismo da existência. Seja inteiro ou em pedaços, siga-o até o fim. Até porque, você não tem outra escolha...