quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O fim do racismo?


Por Eder Ferreira e Eliana Rigo Acosta Ferreira

Em uma entrevista do ator norte-americano Morgan Freeman, quando perguntado sobre o que ele achava do mês da “consciência negra”, sua resposta foi rápida e certeira: “Ridículo”, foi o que ele disse. Seu argumento foi de que não existe um mês da consciência branca ou da consciência judaica, por exemplo, e que a melhor maneira de acabar com o racismo é simplesmente parando de falar nele.
Nesse sentido exposto por Morgan Freeman, podemos analisar a questão dos afrodescendentes sob um ponto de vista não voltado para o racismo, mas sim para suas contribuições para com a sociedade contemporânea. Temos, como um forte exemplo, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama, que acaba de ser reeleito. Apesar de algumas criticas de seus opositores, o balanço geral de seu governo frente à maior nação do mundo é positiva. A própria presidente Dilma afirmou que torcia para que ele continuasse na Casa Branca por mais 4 anos.E por falar no Brasil, temos o Ministro do STJ Joaquim Barbosa, que ficou famoso como relator do julgamento dos envolvidos no caso Mensalão, sendo apontado por muitos como um árduo defensor da justiça no país.
Porém, há tempos que vemos exemplos de como os afro-descendentes influenciam  positivamente nossa sociedade atual. Nas artes, muitos são os artistas que nos prestigiam com seus talentos (como o próprio ator Morgan Freeman, citado no inicio desse texto). A música mesmo é cheia de exemplos da cultura afro-ocidental. O astro do rock Elvis Presley, por exemplo, fez sucesso misturando vários ritmos da música afro-americana norte-americana de sua época.
Nos esportes, vários outros exemplos nos mostram o quando os afro-descendentes são talentosos. Pelé é até hoje reverenciado como o maior atleta do século XX. O jamaicano Usain Bolt tem se consagrado como o homem mais rápido do mundo, quebrando todos os recordes do atletismo. Porém, o caso mais emblemático ocorreu nos Jogos Olímpicos, que aconteceu em Berlin, no ano 1936, sob os olhares do líder nazista Adolf Hitler, que anos mais tarde iniciaria a Segunda Guerra Mundial, e que pretendia usar os jogos como forma de mostrar a superioridade da raça ariana. Para a surpresa do fürer, o grande destaque nas provas de atletismo foi o negro norte-americano Jesse Owens, ao ganhar 4 medalhas de ouro.
Desde que conquistaram seus direitos, os negros vem lutando para acabar de uma vez com qualquer forma de racismo que ainda possa existir. Mas, como disse Morgan Freeman, muitas vezes, para acabar com alguma coisa, é melhor fingir que ela não existe. Sem nos esquecermos, claro, de tudo o que de ruim já aconteceu. Pois, como diz o ditado, “um povo que não conhece sua história está fadado a repeti - lá”, seja para o bem, ou para o mal. 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

12 (ou seriam 14?!) dicas para você ser tornar um(a) escritor(a)



Por Eder Ferreira

Dica número zero: antes de qualquer coisa, é preciso ser alfabetizado(a), senão fica difícil (Se você não for alfabetizado, e alguém estiver lendo isso para você, existem vários cursos de alfabetização por aí...).

1- Leia muito, desde os clássicos da literatura (CLIQUE AQUI) até autores contemporâneos e revistas (CLIQUE AQUI);
2- Comece escrevendo textos curtos, de preferência poesias;
3- Escreva, erre, escreva de novo, erre de novo... uma hora você acerta;
4- Se puder, faça uma faculdade de Letras ou Jornalismo (CLIQUE AQUI) - não que isso seja essencial, mas ajuda muito;
5- Se não puder fazer uma faculdade, estude um pouco de teoria literária (CLIQUE AQUI), gêneros literários (CLIQUE AQUI), escolas literárias (CLIQUE AQUI), noções de estilo, tempo, redação (CLIQUE AQUI), etc;
6- Estude também um pouco de gramática e ortografia (CLIQUE AQUI). E não tenha vergonha de consultar o dicionário (CLIQUE AQUI). Ele existe para isso mesmo;
7- Entre em contato com outros escritores (CLIQUE AQUI). A maioria é gente boa, e a troca de experiências e informações pode ser muito útil;
8- Aceite críticas. São elas que vão lhe dizer se você está no caminho certo, e não os elogios;
9- Encare o ato de escrever como arte, e não como passatempo. Valorize-se;
10- Não tenha vergonha de mostrar seus textos. Lembre-se: você quer escrever um livro, e não um diário...
11- Participe de concursos literários (CLIQUE AQUI). Além de servirem como experiência, podem lhe render uma graninha (ou até a publicação de seu livro);
12- Procure um site literário (CLIQUE AQUI), onde você pode publicar seus textos, receber a opinião de outros membros e também opinar sobre textos de outros autores.

Dica extra: não se preocupe se ainda não conseguiu publicar seu livro. Uma hora dessas dá certo (CLIQUE AQUI).

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Minha Eterna Flor

por Eder Ferreira


Troco um poema por uma flor
Lírico perfume; Estrofe florida
Um verso carregado de amor
por uma rosa tão cheia de vida

Troco a chance que me foi dada
para estar ao seu lado agora
como a semente que foi lançada
na terra onde uma rosa aflora

Troco uma pétala por um verso
Um amor perdido por um distante
A infinitude por um beijo eterno
Uma bela flor por um breve instante

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Areté

por Eder Ferreira 
 
5 de novembro, data sem emoção
Isso, pra quem tá longe da capoeira
Porque pros brazucas de coração
Hoje é o Dia da Cultura Brasileira

Poética homenagem a todos os artistas, folcloristas e agentes culturais, que lutam diariamente pelo bem mais precioso do povo brasileiro: a nossa cultura! Dia 5 de novembro, Dia da Cultura Brasileira!

Areté: Dia festivo, em Tupi

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O príncipe violinista

por Eder Ferreira

     Das melodias que ouvira, nenhuma tinha tanta paixão e melancolia quanto aquela. Talvez até já tivesse escutado algo tão belo, mas não conseguia se lembrar de algum momento de tanta beleza. O som do violino parecia que vinha do céu, preenchendo o ar e fazendo com que qualquer um que passasse ao entardecer, pela Rua da Alvorada, ficasse extasiado de tanta doçura e tristeza misturadas. A música vinha de uma casa, já velha, sem muito brilho, quase que por desabar. Flora se encantava sempre que voltava da escola. Chegava a parar por alguns minutos, só para poder escutar aquela música divina. Indagava-se sobre quem poderia tocar tão maravilhosamente um violino, instrumento que ela tentara aprender, mas sem muito sucesso. A vergonha não lhe permitia bater palmas e perguntar quem era o instrumentista que a encantava todo fim de tarde. É claro que, em sua cabecinha juvenil, de menina com seus quatorze anos, montava a idéia de o músico ser um rapaz com seus vinte e poucos anos, lindo de morrer e que, sem muitos recursos financeiros para fazer aulas de violino, aprendera a tocar sozinho, e ficava ali, todos os dias, no mesmo horário, ensaiando. Pensara até em um nome para ele: Marcos. Alto, olhos verdes, olhar tímido. Um príncipe, não só em beleza como também em talento. Numa tarde, dessas meio chuvosas, quando veio a estiagem de alguns minutos, quase suficiente para Flora ir embora, pois esquecera de levar o guarda-chuva, passava ela pela Rua da Alvorada quando viu um senhor, de idade avançada, saindo pelo portão enferrujado daquela casa velha, onde morava seu violinista dos sonhos. Eufórica, pensou logo em se tratar do pai ou avô do rapaz, o tal Marcos, que ela nomeara. Tomou coragem e foi até lá, perguntar ao velho sobre quem tocava aquelas músicas tão belamente. O velho lhe disse que era ele mesmo quem tocava o violino. O mundo de Flora desabou naquele instante. Não havia Marcos algum, e seu príncipe violinista não passava de um senhor quase careca, de voz rouca e sem charme algum. Meio sem querer ela deixou escapar um “Marcos”, que o velho logo escutou. Perguntou à moça o que dissera, e ela, com olhar de curiosidade, repetiu o nome. O velho disse se tratar do nome de seu neto, que morrera a pouco mais de um ano, em um acidente de carro, quando ia para um festival de violino. O velho despediu-se então da jovem, e seguiu pela calçada, até virar a esquina. Flora ficou lá, parada, no meio da calçada, quando recomeçou a chover finamente. “Então o Marcos existiu”, pensou ela, com um leve sorriso no rosto. Vagarosamente começou a andar em direção à sua casa. A chuva logo engrossou, mas ela não acelerou o passo. Foi lentamente embora, relembrando uma das músicas que sempre ouvira o velho tocar nos fins de tarde. O tom melancólico das canções que ouvia agora fazia sentido. Quem sabe aquele velho não tocava as músicas tristes pensando no neto Marcos, que havia morrido. Flora começou a chorar e, misturada às suas lágrimas, a chuva escorria pelo seu rosto. A música não saia de sua cabeça, e nem a lembrança de seu príncipe violinista, que ela só conhecera por intermédio do som de um violino, tocado por um velho músico desconhecido.


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Conto publicado originalmente no livro "Uma Verdadeira Prosa - Contos & Minicontos", do escritor Eder Ferreira (para adquirir o livro clique aqui)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Dois mundos

por Eder Ferreira


Enquanto uns cospem
Outros engolem seco
Um gosto amargo
Uma lastima caída

Recolhem em si
A esperança perdida
De toda sorte contida
No azar sorridente

E nesta terra ardente
Deste planeta hábil
Mora a incerteza
Da fé não amada

Tantos que cantam
Que sofrem em pranto
Numa festa sem fim
Num riso aparente

Outros que oram
De pecado em pecado
Num sonho alado
Devaneio, senil

Neste mundo duplo
Sentidos em êxtase
De um lado o sagrado
De outro o profano

Entre a vida capital
E a morte divina
Resta só a dúvida
Tão suave e mortal

Será que no fim
Cada palavra e ação
Farão a diferença
Entre os dois mundos?

Enquanto uns rezam
Outros tantos fornicam
Ambos sem rumo
Na certeza do risco

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Minha amada desconhecida – Poema II


por Eder Ferreira


Outra vez eu disse adeus
A alguém que nunca tive
Novamente olhei para mim
E, tão perto do fim
Senti tua falta
Tão inexistente
Quanto tua presença
Sozinho, percebi a ausência
De tua pessoa
Vi teu olhar
No vazio do ar
Beijei tua boca
Ilusórios sentidos
Meu toque, seu toque
Na penumbra da falta
De um abraço, de um carinho
De uma mulher
Que nunca foi minha
Outra vez eu disse adeus
E mais uma vez
Não houve resposta
Só o silencio
De tua longínqua
E eterna presença

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Os limites da mentira

por Eder Ferreira


     Quem nunca mentiu? Você mesmo, caro leitor, já contou alguma mentira? Olha lá em! Seja sincero! Não adianta. Não há ser humano na face da terra que não tenha dito ao menos algumas palavrinhas em falso testemunho. Parece trivial falar sobre a mentira, mas não é. Faltar com a verdade pode até ser crime, dependendo das intenções do candidato a Pinóquio. É até pecado, ocupando a 8ª colocação nos famosos e antiquíssimos 10 Mandamentos. 
     Mas, afinal, o que é a mentira? Ou melhor, quais os limites da mentira? Mentir pode ser tanto esconder a verdade como alterá-la. Mas, não para por ai. Um ator, encenando uma peça de teatro, por exemplo, não estaria mentindo, fingindo ser quem ele não é? Lógico que os espectadores sabem que tudo não passa de uma encenação. Só que, se olharmos pelo lado pratico da coisa, é uma forma de mentira sim. O próprio escritor (e ai, entro eu nessa história) é um mentiroso de carteirinha. Por mais que muitos escrevam sobre coisas reais, a maioria prefere inventar histórias fictícias, frutos da imaginação.
     E é ai que está o ponto, a imaginação. Esse é o tal limite da mentira. Mentir nada mais é que usar a imaginação para ludibriar a verdade. Inventar artifícios intelectuais para fazer com que outras pessoas acreditem naquilo que esta sendo mostrado. Mas, tais limites podem, as vezes, romperem as barreiras do bom sendo. Quando, por exemplo, um ator de novela apanha na rua, por interpretar um papel de vilão. Sua mentira, quer dizer, sua encenação, é tão boa que muitas pessoas passam a acreditar que ele realmente é mal.
     Na verdade, toda arte não passa de uma grande mentira. Uma forma inventada pela humanidade para nos esquecermos de vez em quando da realidade amarga da vida. Uma maneira de transformarmos o mundo em um lugar melhor. Ou pior, depende da mentira a ser contada, e por quanto tempo ela durará. 
     Dizem que mentira tem perna curta. Isso me faz lembrar dos bobos da corte, aqueles palhaços, geralmente anões, que divertiam os nobres europeus na idade média. Pois, muitos artistas atuais descendem desses palhacinhos medievais. Só que, nos dias de hoje, os artistas, raras algumas exceções, tem pernas longas até demais. Assim como os mentirosos. 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O dia da caça

por Eder Ferreira


     Já estava quase na hora, e aquele maldito binóculo ainda não havia aparecido. Já tinha procurado por quase todo o apartamento, e nada. Parecia que pernas tinham surgido, e com elas havia escapulido pelos corredores do prédio. Mais uma vez, Carlos foi procurá-lo em seu quarto. A cada remexida em seu guarda roupa, dava uma espiada no relógio. Ela nunca se atrasava. Sempre na mesma hora, aquela deusa despia-se quase totalmente, e ficava próxima a sua janela, com as cortinas escancaradas. Não seria naquele dia que Carlos perderia o show. Mas, sem o binóculo, ficaria muito difícil. O desespero já estava chegando a limites insuportáveis. Era um vício, uma tara sem igual. Ao passar pela sala, viu ao longe quando as cortinas do quarto dela se abriram. “Maldito binóculo!”, gritava ele. Até que se lembrou que havia passado metade da noite anterior na internet. “O quarto do computador, ainda não olhei lá!”, disse ele, em voz alta. Correu para o quarto. Ao chegar, fez uma varredura com os olhos bem arregalados, mas nada. Enfim, olhou debaixo da cadeira, e lá estava o maldito. Bem na hora. Pegou o binóculo, correu para a janela da sala, fechou as cortinas, ajoelhou-se, enfiou o binóculo numa frestinha, mirou sua visão para a janela da deusa, e a viu, do jeito que imaginava. Há dias a esperava trajando uma lingerie vermelha. Seu desejo foi atendido. A calcinha de rendinha combinava com o sutiã meia taça. Um espetáculo. Além de ter um belíssimo rosto que lhe perturbava o sono há semanas, seu corpo era de uma perfeição inimaginável. Por vezes, achava que ela estava olhando em direção à sua janela. Até poderia, só não conseguiria vê-lo, pois a distância entre os dois prédios era grande o bastante para impedir uma observação minuciosa a olho nu. Quando seu êxtase parecia que lhe levaria a um enfarto, sua deusa resolveu fechar as cortinas. Lamentou-se com uma série de palavrões. Hoje não era seu dia. Havia quase morrido de aflição por não encontrar o binóculo e, para completar, sua deusa tinha resolvido encurtar seu espetáculo diário. Ao perceber que a luz do quarto havia se apagado levantou-se, abriu as cortinas e jogou o binóculo no sofá. A mescla de euforia, por mais uma vez poder contemplar sua deusa, com a raiva pelos acontecimentos indesejados lhe deu um calor descomunal. Arrancou a camisa, e ficou caminhando de um lado para o outro, ao lado da janela. Vez ou outra olhava para onde sua deusa deveria estar. Seus pensamentos já tão desorientados só conseguiam planejar uma possível ida até o apartamento daquela mulher que tanto tirava seu sono. Não seria difícil. Os prédios, apesar de afastados um do outro, eram gêmeos. Ambos os apartamentos ficavam no oitavo andar. Acharia com muita facilidade. “Mas, o que dizer a ela?”, perguntava-se. “Por favor, poderia me arrumar um pouco de açúcar? Não, não! Por que eu iria até lá pra pedir açúcar? Como sou estúpido!”. Sua caminhada tortuosa ao lado da janela já começava a lhe cansar. A fome foi lhe apertando. Resolveu que estava na hora de relaxar. Foi até a cozinha, preparar algo para comer. Um lanche cairia bem. Depois de algum tempo, um belo sanduíche o aguardava em cima da mesa. Quando ia para dar uma bocada no sanduba sua campainha tocou. Sob uma chuva de palavrões, dirigiu-se até a porta. Ao abrí-la, tamanho foi seu susto em ver quem estava ali. Era sua deusa. Com uma saia jeans apertadinha e uma blusinha preta idem, de onde se podia ver a alça do sutiã vermelho que usava enquanto ele a espiava. De queixo caído, sentiu sua mandíbula desabar no chão quando, com uma voz doce e ao mesmo tempo provocante, sua deusa lhe perguntou: “Por favor, poderia me arrumar um pouco de açúcar?”

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Conto publicado originalmente no livro "Uma Verdadeira Prosa - Contos & Minicontos", do escritor Eder Ferreira (para adquirir o livro clique aqui), e finalista do "Prêmio Cidade de Porto Seguro de Contos 2009", tendo sido publicado, também, na antologia "Festa Surpresa - Vol. II".

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Insensível




 por Eder Ferreira, com co-autoria de A. Zhoras*

sinta-me
se tiver coragem
sinta o sopro gélido da minha ausência
e a lava do meu ódio em erupção

sinta-me
em seus pesadelos
e se souber delirar sem ópio

sinta-me
em minhas crises de pavor
ante a verdade de sua partida
sinta-me
sem mentira

sinta-me
neste pulsar estraçalhado
de um coração que
você degustou com seus
talheres de indiferença refinada
naquele jantar regado a vinho
e torpor

sinta-me
neste sangrar sem sentido
nesta dor que não me abandona
nestes soluços que me molestam a alma
nesta ponta de espada que me invade
lenta e impiedosa
mas sinta
apenas
se tiver coragem

sinta-me
neste não
neste sim
neste chão que se abre
nesta cova cruel
neste fim

sinta-me
se tiver coragem
pois sou eu o remédio
contra esse seu medo
(secreto)
da solidão

*Pseudônimo do escritor tomazinense Leandro Muniz (http://azhoras.weebly.com/index.html)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Deusa




por Eder Ferreira

Tua palavra me é redoma
Que prende minha vontade
Aniquila a liberdade
Aprisiona meus pensamentos
Teus lábios se fazem
Como sentenças inquisitórias
Leis insatisfatórias
Regras nada naturais
Teus anseios me devoram
Consomem meu prazer
Tiram todo o meu querer
Fazem de mim um serviçal
Tua alma me desfigura
Teus desejos me alucinam
Tua mente me enlouquece
Assim, sou prisioneiro
Em teu universo metafórico
Em tua presença que me leva
Tentando sempre ser teu deus
Sendo tu minha eterna Minerva

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Livre arbítrio


por Eder Ferreira


Homem vira fêmea
E fêmea vira macho
Deus vira dinheiro
E dinheiro, solução

Mãos viram pés
Pés viram tudo
O tudo vira nada
O nada, absurdo

O gato vira rato
O rato vira gente
A vida vira morte
A morte, tão normal

O silêncio vira som
O som, inaudível
O amor vira ilusão
A paz vira caos

A sorte vira azar
Filial vira matriz
E todo mundo
Enfim vira
Tudo o que sonhou
Tudo que sempre quis

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O fim do tempo


por Eder Ferreira

     O relógio parou. Inerte, como as certezas da vida. Complexo, como as verdades intrínsecas. Inútil, como a vida perplexa diante dos mistérios do universo imensamente indecifrável. Relógio que não mais marca as horas. Sua única medição é a da iniquidade do tempo que assola os corações enfraquecidos de tanta dor, de tanta solidão hermética, de tanto talento sendo usado para nada. Ah! O nada! Palavra completa, que explica o vazio, tanto espacial quanto temporal. O mesmo nada contido, agora, nas horas paralisadas desse aparelho absurdamente ineficaz. Esse instrumento que, outrora, mostrava fielmente a rasuras no tecido relativístico da contagem numérica. Números, nascidos da mente humana, mas que servem ao cosmo, ao deus-matéria, ao inatingível que pode ser tocado, ao imponderável que pode ser explicado, ao vácuo eterno e solene da eternidade execrável da humanidade. O relógio. Esse maldito marcador do tempo. Cronômetro infindável, mas, que achou seu fim nas mirabolantes engrenagens da tecnológica paródia humana. E, tal tecnologia, apática à realidade do verdadeiro tempo que se faz presente, de nada vale para aplacar com a mais misteriosa e amedrontadora das certezas do mundo: o inevitável fim da vida. E agora, nem mesmo para contar quanto tempo resta, esse relógio serve. Mas, se não há mais de servir às mentes mundanas, que ainda tentam se aventurar na bioquímica das reações que geram a vida e a intelectualidade humana, há, ainda, na alegoria do infinito, de servir ao universo material, que usará de suas moléculas para criar novas máquinas, novos seres, novas esperanças e novas certezas de que, um dia, todo relógio, qualquer que seja, não mais servirá para contar as perenes horas dessa apavorante e inquietante existência.  

terça-feira, 14 de agosto de 2012

(I)mundo


por Eder Ferreira

sujos, cascudos
no fundo
do mundo

latrina, sujeira
raspa de tacho
fachada

fujo, vou-me
limpo-me
daqui

luxo, é nada
em águas rasas
só fluxo

vazia, nada limpa
o assunto
das bocas

sujas, que gritam
dando a volta
no mundo

papel, moeda
valor
sem perdão

capital, lixão
só mente
sem coração

sábado, 11 de agosto de 2012

Bobo da corte


por Eder Ferreira


Não sei se sou gênio
Se sou tolo, se sou bobo
Não sei se um dia
Nos veremos
Não sei se faremos
A vida valer a pena
Valer o que vale
O ouro entregue errado
A medalha nunca ganha
Não sei se mereço
Teu riso, tua lágrima
Teu merecimento
Não sei se desapareço
Se fico, se lamento
Pelas idas sem volta
Pelas voltas vividas
Não sei se ontem foi hoje
Não sei se o amanhã virá
Não sei se o tempo ruiu
Ou mesmo se existiu
Não sei se rio agora
Ou mais tarde
Não sei nada
Não sou gênio
Sou, sim, bobo
De uma corte
Em decadência
De uma vida
Que nunca terá graça
Sem você aqui

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Carnificina no campo (Haikais)


por Eder Ferreira

Haikai I

Calmaria natural
Cheiro de mato
Cenário fatal

Haikai II

Amor florescendo
Antes a paz
Antes da morte

Haikai III

Ramos que nascem
Rasteiramente
Risos fatais

Haikai IV

No silêncio campestre
Nuvens se amontoam
Novidade macabra

Haikai V

Instantes de calma
Instintivamente
Inicia-se a caos

Haikai VI

Fração de segundos
Faca em punho
Faz-se uma vitima

Haikai VII

Inata vontade
Inexata certeza
Improvável fuga

Haikai VIII

Corte frontal
Cabeça decepada
Certeiro desejo

Haikai IX

Instintos expostos
Implorando clemência
Inaudível pedido

Haikai X

Novamente um golpe
No campo aberto
Novo sangue que cai

Haikai XI

Amantes mortos
Além de um olhar
Almejando por mais

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O que ficou


por Eder Ferreira

O tempo se foi
E com ele
Tua presença
As palavras se foram
E com elas
Tua existência
O amor se foi
E com ele
Meu sorriso
A paixão se foi
E com ela
Minha coragem
O sentimento se foi
E com ele
Nossas lembranças
A loucura se foi
E com ela
A tua imagem
O desejo se foi
E com ele
Meu coração
A saudade ficou
E com ela
A solidão

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Abrigo


por Eder Ferreira


Poética homenagem ao Dia do Amigo e a 
todos que prezam pela minha amizade


há dias de sol
há dias de trevas
entre e céu e a terra
entre o bem e o mal
a verdade das horas
o agora distante
o mais relevante
sentimento fatal
há horas solitárias
que afloram do nada
momentos distantes
quase irrelevantes
há o tempo que para
o relógio quebrado
a tristeza sagaz
o desejo fadado
que só a dor traz
há a noite eterna
a manhã despertada
a triste alvorada
a falta fraterna
há o lamento
o sentimento
o momento
a loucura
mas há também
longe do além
um lampejo atroz
que chega veloz
e se faz um abrigo
vai além dos reveses
vai mais longe que tudo
é o grito mais mudo
é o abraço de um amigo

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O pedido

 
por Eder Ferreira

um dia me pediu
para nunca desistir
de você
um dia tão distante
tão ausente
delirante
um pedido absurdo
meio mudo, meio surdo
um pedido, e nada mais
um dia que se foi
perdido entre lembranças
na vaga esperança
outrora tão vivaz
um resquício de amor
um lamento, uma dor
que já doeu
e foi assim
como a jura já desfeita
como o principio do fim
um dia no passado
um pedido desejado
que faz na memória
a longínqua viagem
das palavras ditas ao léu
um suplica ouvida
uma dádiva pedida
alguém que olha
mas não vê
mas agora enfim vi
que sem perceber
na verdade me pediu
para nunca mais
amar você